terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Peter pan


Hoje estava eu no bloco a tentar enfiar um tubo de 2cm de diâmetro pela goela de um doente quando uma colega de curso, actualmente interna de anestesia, em jeito de conversa de ocasião ( o único tipo de conversa que alguma vez tivemos) me pergunta se tinha novidades.

- Novidades?

- Sim? Mãe não és, pelo aspecto. E de resto? As tuas amigas?

Vou tentar tomar isto como um elogio . Não estou uma lontra, quis a senhora dizer. Quanto ao resto, respondi que a outra estava grávida.

- Já sabia! De quanto meses?- Respondi um seco:

- Não faço ideia.

Depois disse-me, como se me espetasse um faca no meu peito, mas longe de saber que esse era o efeito, que o J. ia ser pai.

O J. era meu amigo. Foi das pessoas com quem mais me dei na faculdade. Era o "menino" entre as meninas. O "amigo". Senti os olhos encherem-se de lágrimas mas, entre o aparato de um bloco pequeno demais para tanta gente respondi, de costas, um simples "não sabia". Engoli a seco e saí.

Sei que aqui a culpa não foi minha. Sei que não sabia que ele ia ser pai como ele não sabe outras coisas minhas e das restantes do grupo. Não sei viver com a sensação de que as pessoas se foram perdendo. Que essa perda é natural aos olhos de todos porque faz parte do crescimento.
Aceito-o a custo. Com a naturalidade imposta por algo que traz consigo o peso da inevitabilidade.

7 comentários:

Lucky13 disse...

As pessoas vão-se perdendo mas outras vão aparecendo! É uma espécie de reciclagem humana que por vezes é necessária!

Eu dou-me por mto feliz por ter perdido o contacto com algumas pessoas porque em compensação apareceram novas pessoas que me fazem mto feliz!

Viviane disse...

Gostei da expressão: "reciclagem humana":)
(Acho que fui parar aos plásticos:)

Branca de Neve disse...

Concordo com o Anónimo. As novas pessoas que entram na nossa vida compensam, muitas vezes, aquelas que saíram.

Miss Kin disse...

Também sinto isso, e por vezes questiono-me quando penso em certas pessoas, se poderia ter feito alguma coisa diferente para que não fosse assim, mas chego sempre à conclusão que é realmente inevitável, as vidas seguem os seus caminhos e há pessoas cujo caminho só cruzou com o nosso...

Unknown disse...

perdemos pessoas ??? não ...nunca!!

digo-te eu :)

bj
teresa

Sílvia disse...

Infelizmente é assim... E quase inevitável que se vão perdendo pessoas por muito que não queiramos...

beijinho****

Jo@ocupada disse...

Eu também acho que nunca perdemos essas pessoas, apenas as temos guardadas no coração, naquele momento no tempo.

A vida toma o seu rumo, conhecemos novas pessoas e estas também ganham o seu espaço. Não penses no entanto que as outras saíram de lá! Essa maravilhosa entidade, que é o nosso coração, tem espaço para isso e muito mais.

Há cerca de 3 dias atrás, recebi um mail perdido, de alguém com quem não falava há anos e com quem vivi durante 5 anos na altura da faculdade, a contar-me que ia ser mamã. Dizia " não sei se este ainda é o teu mail, mas precisava mesmo de te contar, porque sei que vais ficar tão contente por mim, como eu!". E a verdade é que sim, fiquei. Em países diferentes, com rotinas diferentes e sem contacto aparente, ela continua a minha amiga de sempre, que quer que eu partilhe a sua alegri, assim como partilhei tantas tristezas.

That's life ;)

Um beijinho